Gestão

A variável Y

de Martha Maznevski em 29 de outubro de 2015

Eu não sabia no que estava me metendo antes de passar cinco anos na linha de frente descobrindo o que faz com que a geração Y se engaje. A pesquisa que eu li antes de me tornar diretora do MBA do IMD, em 2009, não me preparou para liderar os membros da geração do milênio, aqueles nascidos entre o início dos anos 1980 e início dos anos 2000.

Nós todos já lemos muito sobre essa geração: eles estão acostumados a ser elogiados o tempo todo desde muito jovens; não estão prontos para os feed­backs negativos do mundo real; buscam gratificação instantânea; não têm lealdade… E a lista continua. Embora algumas dessas características sejam verdades, isso pode ser dito sobre as gerações anteriores também. O estereó­tipo dessa geração é uma versão digital do que jovens de 20 e poucos anos têm sido desde a Revolução Industrial.

Como lidar profissionalmente com essa geração tem sido um desafio para muitos gestores, por isso resolvi compartilhar essas seis coisas que aprendi e que os líderes de hoje precisam saber para realmente aproveitar o poder da geração do milênio.

â–º Eles aprendem por meio da experiência

Nós não os chamamos de geração PlayStation à toa. Eles cresceram jogando videogame sem usar instruções e aprenderam a passar para as próximas fases morrendo várias vezes. Isso pode se refletir em suas carreiras profissionais também; jogam-se em novas experiências, sem muito planejamento e aprendem falhando. Por isso esperam que um líder desempenhe o papel que as paredes invisíveis fazem em um jogo. Os gestores devem estar conscientes disso, apontando os limites daquela ação e ajudando a identificar as potenciais armadilhas, tanto antes quanto depois.

â–º Suas vidas não são lineares

O mundo sempre foi complexo e volátil para essa geração. Eles testemunharam a crise financeira asiática, a mudança climática, o 11 de Setembro e a guerra contra o terror, a crise financeira de 2008, antes mesmo que fossem profissionais estabelecidos. Essa geração nunca viu o mundo como um lugar seguro e coerente. Eles terão trajetórias de carreiras não lineares e sabem disso. Muitos deles vão transitar entre o emprego tradicional e o empreendedorismo. Durante grande parte de suas vidas, eles leram na internet focando um minuto em um assunto e em algo completamente diferente no próximo, enquanto as gerações anteriores aprenderam de uma forma mais linear, lendo livros do início ao fim. Para os líderes, isso significa que a geração  Y está preparada para a complexidade.

â–º Eles são leais, mas aos princípios e não às pessoas

É aqui que um pouco da sabedoria sobre a geração do milênio entra. Eles apreciam o desenvolvimento pessoal e adoram novas oportunidades, mas eles não vão seguir a sua liderança só porque você é o chefe. Em vez de tentar forçar o desenvolvimento de lealdade para com a sua liderança ou sua organização, o gestor deve se concentrar mais em desenvolver e comunicar os princípios e propósitos por trás da organização, não importa se é uma empresa, ONG ou um órgão do governo. Essa geração precisa saber que eles estão trabalhando para tornar o mundo um lugar melhor. Eles acreditam que não há sucesso sem sustentabilidade para os indivíduos, organizações, sociedade e meio ambiente. Se você pode convencê-los de uma forma autêntica de que o que você está fazendo é baseado em princípios, eles vão te seguir.

â–º Hipóteses a respeito da privacidade, limites e papéis são fluidos e permeáveis

Isso pode ser bom e ruim. Nós todos já ouvimos as histórias horríveis de jovens adultos que sofrem as consequências do que eles postam nas mídias sociais, como o amigo de um amigo que foi demitido por falar mal do chefe no Facebook. Mas isso pode ser trabalhado também de forma positiva. Não submeter-se a estruturas hierárquicas antiquadas permite que a geração do milênio pense criativamente e encontre oportunidades de negócios onde outros talvez não imaginassem que havia.

Enquanto os líderes devem estar atentos para consequências não intencionais, eles também devem incentivar a criatividade dos funcionários mais jovens para que eles pensem além da maneira estabelecida de fazer as coisas.

â–º O poder é descentralizado e o controle requer permissão

Em outras palavras, a geração Y não tolera chefes ruins e não vai escutar a autoridade se não concordarem. Isso pode parecer um desafio, mas, em longo prazo, quanto mais cedo as pessoas pararem de aceitar uma liderança fraca, os gestores terão de melhorar e todos serão beneficiados. A lição aqui é: não seja um líder preguiçoso. Certifique-se de que seus colaboradores jovens entendam por que sua organização e equipe estão fazendo o que estão fazendo. Não basta dizer “faça porque eu mandei”. Além disso, não negligencie o desenvolvimento da liderança; é necessário investimento contínuo em suas capacidades para que possa motivar os colaboradores dessa geração.

â–º Eles não são bons no trabalho chato, mas necessário

A geração Y não gosta de se concentrar em tarefas chatas que levam à maestria e constroem caráter, se essas tarefas não têm clara vantagem. A fim de desenvolver conhecimentos e sabedoria em qualquer indústria, as pessoas têm de investir em trabalho pesado sem glamour para conhecer o seu setor completamente. Gerentes seniores de hoje devem fazer um esforço extra para mostrar a essa geração por que o trabalho duro é importante. Os líderes precisam ter certeza de que talentos jovens entendem que ter uma profunda compreensão dos diferentes aspectos de uma indústria irá ajudá-los a ocupar cargos mais altos no futuro.

Empresas e organizações de um modo geral têm sido competentes para atrair a geração do milênio por um tempo, mas tem sido um desafio maior fazê-los transitar para níveis mais elevados de responsabilidade. Se os gerentes seniores seguirem esses conselhos, eles podem tocar em pontos fortes da geração e ajudá-los a se tornar a próxima geração de líderes.


Martha Maznevski é professora de Comportamento Organizacional e Gestão Internacional do IMD

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