Gestão

Humanizar os negócios

de Ludmila do Prado em 8 de abril de 2015

Adam
Spence, da SVX: enxergar o impacto social do negócio

Atualmente, as empresas não precisam mais optar por lucro ou impacto social, isso porque agora a palavra ou pode ser substituída por e, ou seja, as empresas podem ter lucro e impacto social ao mesmo tempo. Persuadir empresários e comunidade que essa separação entre “Estado e Igreja” não existe mais é um dos objetivos daqueles que trabalham com finanças sociais. A ideia desse grupo é oferecer soluções escaláveis para problemas sociais da população de baixa renda, gerando tanto o impacto social, como retorno financeiro.

E como toda transformação só é possível a partir do engajamento e do comprometimento das pessoas em realizá-la, uma das análises do grupo é focada no perfil do profissional que pretende atuar nessa área. Para eles, este colaborador deve colocar seu trabalho como um meio para alcançar um impacto social positivo.

Mas como as empresas podem formar esse tipo de profissional? De acordo com Adam Spence, fundador da Social Venture Connexion (SVX), organização que se dedica a estabelecer a ponte entre capital e negócios sociais, um dos primeiros passos é alinhar a política da empresa à postura do RH da companhia. “A área de Recursos Humanos deve ter o potencial de engajar funcionários a adotarem (dentro e fora da organização) uma postura ética e prática no sentido de contribuir para a construção de uma sociedade mais justa, educada e equilibrada”, destaca.

O executivo acredita que existe a tendência de um avanço rápido nesse sentido. “Há cinco anos, em um universo de cem pessoas, se perguntássemos quantas realizavam ações sociais, não mais de 20% delas responderiam que sim. Se fizer a mesma pergunta hoje, 75% das pessoas responderão afirmativamente.”


Plano de atuação responsável
 

A experiência do empresário no assunto permite a ele destacar alguns caminhos eficazes para as organizações que procuram um time apto a conectar lucro e ganho social. Um deles é envolver os funcionários na construção de um plano de atuação de responsabilidade ambiental e social. Spence explica que isso não significa que a organização irá deixar de lado seu core business para se tornar uma empresa de atuação estrita de combate a problemas sociais. Ao contrário, ela deve continuar fazendo bem o que faz, porém, inserindo em sua conduta ações que lhe permitam ter uma atuação ativa na resolução de problemas locais ou “atuar na vizinhança”.

“Esta conduta pode envolver inúmeras ações, desde que alinhadas aos propósitos da empresa e que não impliquem caridade, filantropia ou assistencialismo; o objetivo é incentivar a equipe a ajudar e propor ferramentas que permitam à comunidade do entorno se empoderar e agir sozinha, depois de um determinado período de tempo”, alerta.

Se, por um lado, tal atitude não envolva um retorno financeiro direto, por outro mostra uma postura inovadora que quebra paradigmas, aumenta consideravelmente o ganho da empresa com imagem e com a realização pessoal deste novo perfil de colaborador que não quer somente um bom salário, mas também deseja imprimir uma pegada positiva do seu trabalho fora do ambiente corporativo.

 

Plataformas colaborativas

Spence também menciona a possibilidade de a tecnologia dar um empurrão nessa estratégia. Ele cita o caso de empresas que criaram plataformas colaborativas, nas quais o funcionário acompanha o uso de água, papel, energia, quanto tempo vem dedicando a atividades voluntárias ou quaisquer outras informações pertinentes em termos de monitoramento de execução de práticas mais adequadas. “É uma maneira clara e simples de fazê-lo enxergar concretamente o quanto está conseguindo modificar atitudes em prol de um propósito maior: cooperar para um mundo mais sustentável”, diz.

Segundo o especialista, para que uma plataforma como essa tenha sucesso, basta que haja um mínimo de disposição para preenchimento dos dados. Spence conta que, geralmente, com o tempo de uso a tarefa passa a ser uma forma divertida de se informar sobre suas próprias condutas e uma maneira interessante de o colaborador compreender melhor a realidade que o cerca.

“Este novo tipo de empresa quer encontrar soluções sociais, aumentar os padrões e estabelecer regras para um comércio justo porque deseja enxergar o impacto de suas negociações em termos sociais e ambientais. Este tipo de processo passa a fazer parte da agenda e contribui para que ela se torne cada vez mais sustentável ao longo do tempo”, explica.

Vale ressaltar que o crescimento desse mercado é promissor. Ainda não há dados precisos, porém, há indícios de que cerca de 250 milhões de reais possam ser investidos em negócios sociais no Brasil em curto prazo. São cerca de dez fundos de investimentos no setor atuando no país — esta é uma estimativa divulgada na mídia por profissionais que já atuam nesse mercado como investidor, empreendendo ou realizando capacitações para empreendedores sociais.

Contudo, como Spence indica, por representar uma amostra de organizações que vêm ganhando espaço e que há pouco tempo começam a chamar atenção pelo tamanho de seu mercado, a importância de atrair e reter esses talentos alinhados a um propósito aumenta. Além disso, essas empresas ainda precisam levar em consideração a concorrência que o empreendedorismo social enfrenta diante dos apelos das organizações que atuam no “mercado comum”.

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