Gestão

Jovens tendem mais a aceitar conduta irregular, indica estudo

de Flávia Siqueira em 26 de maio de 2015

Os profissionais mais jovens são maioria no grupo considerado de alto risco diante de dilemas éticos, aponta a segunda edição da pesquisa Perfil Ético dos Profissionais das Corporações Brasileiras, apresentada pela empresa de consultoria ICTS Protiviti. O estudo mostra o posicionamento de colaboradores em tópicos como disposição para denúncias e recebimento de suborno. A pesquisa ouviu, entre 2012 e 2014, 8.712 profissionais de 121 empresas privadas com operações no Brasil.

De acordo com o levantamento, 82% dos profissionais com até 24 anos aceitam comportamentos irregulares com maior facilidade. Quase 70% dos colaboradores nessa faixa etária também tendem mais a hesitar em apresentar denúncias, e 56% tendem a decidir sobre suborno a partir das circunstâncias. Mas isso ocorre porque os jovens estão dispostos a assumir riscos? Ou o problema principal é a falta de informação?

Segundo Monica Gonçalves, gerente de compliance individual da ICTS, não ter uma noção clara das regras e das consequências de atos irregulares é um dos fatores preponderantes. “É uma soma da falta de informação com uma dificuldade para medir as consequências. Hoje, boa parte dos jovens vem para o mercado sem referências do mundo corporativo. Falta a eles um parâmetro, enquanto sobram ambição e imediatismo.”

O que é compliance individual?

O termo compliance tem origem no verbo em inglês to comply, que significa agir de acordo com as regras e instruções de um determinado local. No âmbito corporativo, refere-se à atividade de fazer com que as diretrizes, normas e políticas do negócio sejam cumpridas.

Compliance individual contempla as ferramentas e análises para identificar o nível de aderência dos colaboradores à cultura ética da organização.

Nesse cenário, a área de RH tem um papel fundamental. “É essencial que o profissional não seja avaliado apenas por competência, mas que também existam meios de analisar o comportamento das pessoas diante de pressões e dilemas”, avalia Monica. “O objetivo de uma análise como essa não é excluir pessoas, mas entender como a empresa deve trabalhar a questão.”

O comportamento ético, portanto, pode ser em grande parte aprendido. “Nossa experiência reforça cada vez mais o entendimento de que ética se aprende. Cabe às empresas o papel de colaborar de forma mais ativa para a formação dos profissionais brasileiros nos temas comportamentais relacionados à ética e aos valores organizacionais, e não apenas com a capacitação técnica. Os profissionais são contratados por suas competências técnicas, mas muitas vezes são demitidos por seu comportamento”, afirma Mauricio Reggio, sócio-diretor da ICTS.

Trabalho em conjunto
Esse contexto demanda que o RH trabalhe em conjunto com o setor de compliance e com os líderes da organização. “Profissionais com mais tempo de empresa, que conhecem bem os processos e procedimentos, podem ser uma fonte de apoio para o jovem”, diz Monica.

O papel dos líderes é considerado central também pelo advogado Marcos Ferraz Paiva, professor do MBA em de Controles Internos (Compliance) da Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras (Fipecafi). “A melhor ‘técnica’ para disseminar o comportamento ético é o exemplo que vem de cima, dos gestores.”

O debate e o interesse das empresas em torno de questões ligadas a ética e compliance têm crescido desde a promulgação da Lei Anticorrupção, que responsabiliza pessoas jurídicas por atos contra a administração pública, com a aplicação de multas de até 20% do faturamento. Paiva afirma que as empresas brasileiras estão em uma fase inicial de estruturação em torno da questão.

Monica alerta que, no cenário atual, simplesmente ter um código de ética não é mais suficiente. “Ele precisa ser periodicamente revisto e reforçado. É preciso detalhar quais são as consequências de ações fora das regras.” Nesse sentido, é essencial ter um plano de comunicação na empresa que reforce as normas internas e informe com clareza quais são os possíveis resultados de condutas antiéticas.

Outro tópico que não deve ser ignorado é a “reciclagem” ética de colaboradores com mais tempo de casa – realizar, por exemplo, encontros e treinamentos para reforçar as normas e debater o tema. O peso não deve ser colocado todo nas costas dos mais jovens: se, de um lado, eles aparecem como os mais suscetíveis a aceitarem condutas irregulares, de outro, a pesquisa também aponta que profissionais em nível de direção são os que mais tendem a revelar informações confidenciais, e colaboradores com mais de 55 anos são os que apresentam maior tendência ao uso de atalhos antiéticos para atingir resultados.

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