Gestão

Os vitoriosos são desequilibrados?

de Dorival Donadão em 9 de abril de 2015
Dorival Donadão / Crédito: Divulgação
Dorival Donadão é consultor em gestão e desenvolvimento humano / Crédito: Divulgação

A defesa e a argumentação na busca de um ponto de equilíbrio entre as dimensões de vida e carreira é tese recorrente dos estudiosos do tema. Recentemente, porém, um interlocutor — profissional experiente do mundo corporativo — trouxe para o debate numa mesa-redonda uma provocação no sentido contrário: todos os indivíduos bem-sucedidos são, de alguma forma, desequilibrados.

Na percepção do nosso “provocador”, é estar no fio da navalha — onde trafegam os inquietos e desajustados — a condição básica e a vitamina que impulsionam o êxito e as conquistas em qualquer campo pessoal e de atividade profissional.

Por esse ângulo, os grandes cineastas — Woody Allen ou Almodóvar, por exemplo —, os artistas notáveis — Picasso, na pintura, Billie Holiday e Chet Baker, na música, e outros, vivos ou não — seriam geniais não só por seu talento diferenciado, como também por seus desajustes e inquietações. Em outras palavras, pelo desequilíbrio, quase constante.

Os argumentos históricos e a pesquisa bibliográfica de vários personagens indicam, de fato, a procedência da citada provocação. O difícil é aceitar a generalização da tese. Afinal, não temos todas as informações sobre o caminho de compensação desses personagens nos seus desequilíbrios. A partir da premissa de que todo desequilíbrio demanda a volta ao equilíbrio original, até para dar um certo “refresco” aos inquietos personagens.

Mas, voltando aos desequilibrados, será que o estilo de vida por eles adotado será sempre o de exaustão? Numa frenética busca de algo que eles próprios muitas vezes não sabem definir? Ou eles convivem com os sentimentos de impulso para a ação e, ao mesmo tempo, a sensação de vazio existencial pela falta de um propósito maior? Um significado essencial? Um rol de pessoas e coisas queridas com as quais se preocupar?

As respostas remetem à sabedoria de um H. L. Mencken: para cada problema complexo, há uma solução que é simples, elegante e errada.

A complexidade pressupõe o convívio com a dualidade, a tolerância com as ambiguidades, a opção pelo sim e pela raridade da escolha do não definitivo. Nesse aspecto é que volta à cena o valor do equilíbrio entre vida e carreira.

Diferentemente de nosso assertivo interlocutor, nós acreditamos ser essencial a atitude de prestar atenção ao seu papel profissional, mas também — ou principalmente —, à sua identidade de crenças e valores, ao seu circuito de relacionamentos, ao prazer do ócio e do tempo livre, dentre outros aspectos.

Os desequilibrados (vitoriosos ou não) que nos desculpem, mas o eixo da vida que vale a pena ser vivida demanda, sim, a busca do equilíbrio, mesmo que convivendo com muitos momentos de inquietação e desequilíbrios. Talvez seja exatamente esse ponto de equilíbrio a essência que todos nós buscamos no dia a dia, muitas vezes sem a percepção clara dessa busca.

 

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